Depois de tanto repetir o versículo de João (“Conhecerei a verdade e ela vos libertará”), Jair Bolsonaro tem agora chance de ouro para provar que pratica aquilo que prega. Reportagem de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, publicada hoje no UOL, contém informações muito comprometedoras para o presidente da República e família.
De 107 imóveis que o clã Bolsonaro adquiriu de 1990 até hoje, pelo menos 51 foram comprados com dinheiro vivo. Como se sabe, negociações vultosas em espécie costumam chamar atenção das autoridades, já que muitas vezes são indício do crime de lavagem de dinheiro.
A matéria revela que 25 imóveis comprados pela família presidencial desde 2003 foram ou estão sendo investigados pelo Ministério Público do Rio e do Distrito Federal – incluídas aí a casa do presidente no condomínio Vivendas da Barra, no Rio, e a mansão comprada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em Brasília.
O presidente da República tem, então, muito a explicar. Principalmente ele, que a todo momento repete que a verdade liberta. Na prática, porém, não é o que acontece. Procurado pelos jornalistas do UOL, Bolsonaro prefere não se manifestar.
Governantes não fazem nenhum favor em dar transparência ao seu patrimônio e à forma como o conseguiram. Isso é obrigação de todo homem público. Para alguém que, como Bolsonaro, propaga o versículo 8:32, de João, essa responsabilidade é ainda maior.
Para começar, é surpreendente que o presidente e seu clã tenham adquirido tantos imóveis de valor considerável em 32 anos. Como se vê, além dos interesses familiares, a atração pelo mercado imobiliário é um traço que une os Bolsonaros.
Esse movimento já seria estranho, mas outro costume familiar chamou atenção das autoridades: o vício de comprar imóveis com dinheiro vivo. No mundo inteiro, as autoridades policiais e da Receita consideram que transações de alto valor feitas em espécie são indício de lavagem de dinheiro. A partir dessa pista, muitos mafiosos, milicianos, traficantes e sonegadores de grande porte foram presos. Por isso, negociações desse tipo no Brasil podem ser feitas livremente até o limite de R$ 50 mil. A partir daí têm que ser bem explicadas às autoridades. As aquisições feitas pela ‘Imobiliária Bolsonaro’ em espécie desde 1990 totalizaram R$ 13,5 milhões.
Ou, em valores corrigidos pelo IPCA, $ 25,6 milhões. A reportagem do UOL mostra a forma heterodoxa como muitos desses imóveis foram comprados, alguns por valor muito abaixo da cotação de mercado (esse recurso é usado frequentemente por criminosos que fazem pagamento “por fora” e assim transformam o dinheiro ilícito em um bem legalizado). Diante disso, Bolsonaro tem a obrigação de explicar em detalhes seu patrimônio e o de sua família. Não adianta repetir que está imune à corrupção enquanto adota práticas que parecem indicar justamente o contrário.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Cidades,
Fonte: oul
Por: Chico Alves
Reedição: Wilson Barbosa – Jornal Cidades